terça-feira, 10 de novembro de 2009

Fúria salva na ausência de um matador


O Benfica foi o grande vencedor de uma jornada em que ganhou pontos a todos os mais directos rivais, aproveitando a derrota de Braga e FC Porto e o empate do Sporting. Foi com este cenário em mente que os encarnados entraram em campo, nunca baixando os braços perante vários obstáculos e adversidades, até alcançarem um triunfo inteiramente justo, é indispensável afirmá-lo, mas que foi confirmado após um sofrimento que seguramente não esperariam os pupilos de Jorge Jesus e os mais de 40 mil adeptos que se deslocaram à Luz. Um sofrimento não fruto da acção ofensiva ou oportunidades de golo criadas pelo adversário, mas da enorme incapacidade finalizadora dos próprios encarnados, disfarçada apenas a um minuto do apito final por Javi García.

Sem duas unidades nucleares neste Benfica versão Jorge Jesus, Ramires e Cardozo - o primeiro por lesão, o segundo por castigo -, a ausência do matador paraguaio foi a que fez mais mossa na manobra dos encarnados, não tendo a entrada em cena de Nuno Gomes - estreou-se a titular na Liga esta época - e o volumoso caudal ofensivo criado condições para a já habitual goleada ou, no mínimo, para um triunfo tranquilo frente a uma equipa que tem melhorado muito desde a entrada de Augusto Inácio para o comando técnico, mas sem argumentos para contrariar a qualidade da equipa da Luz.

Além da opção pelo capitão para a frente de ataque, o técnico dos encarnados apostou ainda na titularidade de Rúben Amorim, compensando a ausência de Ramires, soluções que mantiveram o esquema habitual, com a segurança defensiva e a profundidade ofensiva habituais, num sistema de que Jesus não abdica. E o médio conseguiu equivaler-se exibicionalmente ao companheiro brasileiro, mas o mesmo não se pode dizer da alteração de nomes no ataque: com Nuno Gomes, Jesus tentou ganhar experiência e capacidade de posse e circulação de bola no ataque, mas faltou-lhe um dos principais condimentos do Benfica 2009/10 - a veia goleadora.

Desde o apito inicial se percebeu que a Naval entrou em cena com uma prioridade: tentar encurtar espaços e assim impedir que as triangulações entre Di María, Aimar e Saviola resultassem em lances de desequilíbrio, com Inácio a apelar ao espírito de sacrifício dos seus pupilos, pedindo-lhes segurança defensiva e, se possível, o lançamento da velocidade de Marinho, o único elemento com liberdade para se "esticar" até ao meio-campo contrário - até o ponta-de-lança Kerrouche foi obrigado a marcar inúmeras vezes Aimar.

Perante as dificuldades de penetração, optaram os jogadores do Benfica por empunhar a arma das bolas paradas, com cruzamentos para a área ou tiros de meia distância. E as oportunidades nasceram quase como cogumelos, só que entre os postes dos figueirenses estava um francês que iniciou bem cedo uma colheita de grandes intervenções, decisivas para a manutenção do nulo até ao intervalo, bem como para enervar o adversário. Mesmo assim, o Benfica foi criando situações de finalização na área, sempre na sequência de passes mortíferos de Aimar ou de arrancadas fulminantes de Di María, mas faltava sempre o tal matador na hora da verdade, leia-se no toque final das jogadas.

O nulo manteve-se até ao intervalo, que surgiu numa altura em que a Naval já quase não respirava - passou o último quarto de hora sem passar da linha intermediária -, mas aguentava o sufoco graças ao empenho dos seus jogadores e à exibição enorme de Peiser. E, na segunda metade, tudo se manteve: o Benfica deliberadamente ao ataque e a Naval encolhida atrás da linha da bola e a abdicar da construção ofensiva, com os lances de perigo a sucederem-se junto à sua baliza a um ritmo frenético, tanto como o desperdício encarnado. Melhorou ainda o Benfica com a entrada de Weldon - substituiu Nuno Gomes -, pela maior velocidade e acutilância que o brasileiro deu à equipa, mas golos... nada.

Foi então que Jorge Jesus apostou tudo: lançou Keirrison abdicando de um lateral (Maxi Pereira) e deixando Rúben Amorim com todo o flanco a seu cargo. Mas a solução já estava em campo, com a fúria de um espanhol bem acompanhada por igual argumento de um brasileiro - David Luiz defendia e construía num frenesim impressionante - e pela qualidade de Di María, numa altura em que Saviola e Aimar já estavam nas lonas fisicamente. Javi foi à área, subiu bem alto e carimbou os três pontos. Com toda a justiça, apesar de um susto final.

In O Jogo

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